quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Aos meus queridos mineiros

Sei também que a partir daquele dia nos fizemos amigos. Amigos, pois, desde o primeiro choro. Amizade que nunca sofrera pausa, embora imaginosa. Vale dizer quase amigos de infância, se pensarmos na graciosa efemeridade do tempo, esse sim astuto com suas ampulhetas, sabido como só ele, nos nossos joelhos rotos de tardes de futebol, das batalhas de gude, de disputas quixotescas pueris.

Melancolicamente, seguimos correntes divergentes. Talvez pelo fato de sabermos que, quando menos esperaríamos, nossas andanças convergissem. E então relembraríamos, guardadas nítida e caprichosamente, as bonitezas espontâneas de aventuras passadas. Riríamos, primaveris. Afinal, creio eu, se extende o étimo das palavras às amizades. Originadas do nada, irradiadas ao infinito. Deve ser por isso o vazio. Deve ser por isso a neblina.
Pudera eu brincar com o mar, deixando os deveres se cumprirem sozinhos; somente para me sentir melhor. Quisera eu, nas mesinhas, aquelas de plástico mesmo, pedir quatro copos duas garrafas. Beberíamos ao nada, no vaivém das bundas na calçada. Citaríamos a literatura, cada qual puxando a sardinha pro seu lado. Discutiríamos polêmicas, já embriagados. Trivialidades iriam e voltariam no passo apressado dos goles. Mulheres, mulheres, mulheres. E, somente com a certeza do retorno, faríamos a despedida. -Mais uma, pra fechar!
E então o poeta, o latino, o japonês e eu nos abraçaríamos. Felizes. Integralmente. Satisfeitos, ficaremos. Como quatro irmãos de sangue, verdadeiros mineiros, na hulha que nos foi honrada. Afinal, disse Cícero, Verae amicitiae sempiternae sunt.