quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

I'm in the tunnel of love

I’m in the tunnel of love. A passagem aparenta ser estreita, aparentemente moldada à passagem de um casal por vez. Tíquetes, só os de ida. Sabe-se lá onde vai desembocar esse túnel. Muitos embarcam ansiosos, talvez passageiros de primeira viagem. Por entre beijos apaixonados se deixam levar ao sabor da brisa através do procurado túnel. Outros, ligeiramente nervosos, escondem travessias feitas e, por temerem o corriqueiro destino, ensaiam risos amarelos a seus companheiros.
Dizem que esse túnel cega os passantes. Não cegueira física, mas deslumbramento. Algumas dessas cegueiras perduram anos, décadas. Outras cessam num piscar de olhos e lá se vão esses desiludidos tomar a fila do túnel de novo. O movimento é intenso. Vendedores de flores, de maçãs-do-amor, de chocolates de todos os sabores misturam-se à multidão de esperançosos. E como lucram!
Mais um casal inicia a travessia. Sob uma ressoada de assovios, entreolham-se e como se dissessem “arrisquemo-nos”, somem no escuro do túnel. Tragados pela arte de Eros, mãos unidas; se aceitam, complacentes. Tolos! – murmuraria a consciência.
Dizem, também, que esse túnel julga com propriedade cada par que se arrisca a tão almejada travessia. Impiedoso, age dialeticamente. Tanto que os ingressos são distribuídos livremente. Basta chegar. Bastaria estar apaixonado, porém feições alegres mascaram relacionamentos dúbios, pares totalmente fora de sintonia. “Cada um que assuma os seus riscos” – diz uma placa por sobre a entrada do túnel.
Há dias em que se formam filas astronômicas. Apaixonados de todos os lugares aguardam sua vez. Alguns, assim como nas igrejas, desistem na hora agá. Corações partidos se multiplicam, elos aparentemente perpétuos são quebrados pela simples presença da entrada do tal túnel. Vítimas do amor, por mais irônico que isso possa soar.
Já pensaram em demoli-lo, para que os escombros servissem como esclarecedor às gerações futuras. Fui um dos que foram contra. Afinal, nunca havia sido transportado ao outro lado. E parece que esse tempo chegou. Sintomas não me faltam, vontade, tampouco. Mas os receios perduram. E se? – quantos já não pronunciei. Conselhos, recebi aos montes. E, por desconhecer o grau de reciprocidade que ela deposita sobre mim, adio ao máximo essa tentativa. É intrínseco de a minha pessoa cultivar aquele pouco de dúvida, admito. Que seja! Penso, pela primeira vez em toda a minha curta existência, de me jogar de cabeça nesse túnel. E a escolhi, ela, com toda a graça e defeitos. E torço, no meu íntimo, que o caminho seja o mais tortuoso possível. Quero, mais que tudo, que valha a pena.