segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Perfume

Por alguns segundos, fiquei estático. Uma sensação vertiginosa me preenchia, convidativa. Seguido de uma pane total dos demais sentidos, o olfato atingiu seu clímax funcional. Decerto aprisionado por aquela essência divina, nada pude fazer a não ser respirá-la. Quisera eu respirá-la por inteira, mas me detive em seu pescoço, reduto das almas das flores – quando essas morrem. Não tive pena das flores, não desta vez. Sentir-se-iam honradas por terem o privilégio de encerrar as formas de tão linda criatura.
Como se fadas voassem ao encontro das minhas narinas, em lânguido compasso, absorvi ao máximo do cálice dos aromas que aquele colo me ofertava. Procuraria a essência daquela essência até o sumir do lusco-fusco, sutilmente escravizado. Provocante, me atraía mais e mais, denunciando a forma feminil que palpitava sob aquele perfume. E que perfume! E que colo, par perfeito a ele. Flutuei na imensidão do tal mar de cheiros. Incrédulo, quando dei por mim, já era tarde. E fico, agora, sonhando acordado, na esperança de me encontrar novamente com aquele pescoço (meu refúgio favorito), em uma simbiose toda única.

“O perfume é o invólucro invisível,
Que encerra as formas da mulher bonita.
Bem como a salamandra em chamas vive,
Entre perfumes a sultana habita.”

Castro Alves