domingo, 28 de junho de 2009

Inevitabilidade.

Que podiam fazer? Não era prostração, não se perdiam. A mesa olhava curiosa os olhares fixos no nada dos quatro que a cercavam. Passivos. Vez ou outra podia se perceber os olhos fechados de um deles, atento à música. Lembravam-se de futuros imaginados milhares e milhares de vezes nos instantes de solidão, como era o caso agora. Tinham um ao outro, mas sempre falta alguém no coração dos que os sonhos tornam passíveis. Quatro pobres, molhando os dedos no suor do chope.
Aquela seria então sua militância eterna. Por aquilo lutaria toda sua vida até que não restasse mais nada de si ou do sonho, até que morresse ou morressem os outros. Teria por fim aquela justa de manter por perto o que a vida, em seus sopros de medo e incerteza, insiste em levar para fora do alcance das mãos. Até então não entendiam que aquilo também era uma forma de amadurecimento: perder.
Qual... Ocasionalmente se olhavam sem expressão, tal como animais que, diante da morte, sabem seu destino. Viam os risos dos outros sem entender, ouviam suas histórias que contavam erguendo os punhos, gesticulando ferozmente fatos merecedores de silêncio. Existem momentos em que qualquer palavra é sem sentido e, se pronunciada, perde seu valor, tendo em vista a gravidade da hora em que se encontra. Por muitas vezes - e eles sabiam disso - qualquer esboço de pronúncia arruína um momento.
Seja então o silêncio a condição da união. Não é preciso dizer nada. Muito do que sentimos se perde sem a merecida magnitude ao transmutarmos dores em sentenças. Mas não aprendemos e não aprederemos nunca...

De alguma forma seguimos repetindo erros na esperança de que a exceção, algum dia, se transforme em regra e vejamos, finalmente, versos mudarem opiniões. Nunca...

Nós, pobres, seres que choram palavras, os eternos errantes entre iguais que já não querem mais ler. Erraremos sempre em favor de nossa tola e infantil espera. Seja esse o marco zero do infinito funeral de nossas memórias. No fundo nada nunca muda.

Deitemos, sonhemos. Que podemos fazer? Nunca estivemos tão próximos de nossa própria verdade.