domingo, 4 de novembro de 2012


Mais um domingo.  Do tipo tormentoso. Soltem as amarras. Soltem-me, pensamentos levianos. Imprudentes lembranças do vagalhão que me sufocou. Entreguei-me, como se esquecesse de boiar. Afundei no mar negro da angústia. Não confio mais em mim. Não confio em nada. Resquícios de sofrimento passados me arrastam, vigorosos. Sozinhos, jamais conseguiriam. Como se alguém os cosessem, sinergicamente, à minha carne. Suturando uma ferida com água salgada. Uma casca de amargura por sobre as chagas cicatrizantes de um amor de outrora. Expondo toda a minha fraqueza. O EU que eu tinha não me cabe. Ensaísta de merda. De que vale toda a minha segurança e meu discurso. Soam como mandamentos epitomais. O balé ao qual ela me convidou já não necessita de par. Imploro por um suspiro, um olhar. Um sorriso sincero. Uma migalha da sua felicidade, já que tomaste a minha. Acolhi à quem me punge. Algum delírio masoquista. Alucinando por um mero par de covinhas convidativas a dizer “Me espera?”.  Calibrando meu humor de acordo com o que ela me diz. Egoísmo dela, irão dizer. Repita isso quando estiver apaixonado. Esqueci-me de nadar, desaprendi as braçadas vigorosas, propositalmente. Ludibriado por uma sereia maniqueísta, que insiste em me fazer acreditar que existe um lado bom nisso. Mais um domingo afogado. Asfixio-me, já que não me reconheço. Invadiu-me, cáustica. E escolhe os piores momentos pra me corroer, me empurrando mais para o fundo. Prum oceano de desprezo.
Percorro em vão suas frases, jogadas. Esquadrinhando suas palavras. Ansiando por algum rascunho de dúvida, alguma incoerência enviada por engano que as milhares de vezes lidas tenham deixado passar. Algum vislumbre, algum contentamento. E quando desisto de procurar, você me oferece. Oferta seu tempo numa bandeja de prata, dadivosa. Um mar salgado de desmazelo, vestindo azul. Desfilando sua impossibilidade e, sem esforço algum, convencendo-me que alfafa é pura ambrosia. Sorvendo minha inspiração, vampiresca. Sugando minha alegria, draculínea. Complacente, deixei de nadar. Agudas, as ondas já quebraram sobre o meu muro de pedra. Fizeram-no pó. Não confio mais em mim. Especialmente em um domingo onde, inquieta, elas – de brando azul – me levantam para tornarem a me afogar. 

sábado, 17 de julho de 2010

Tanto faz

Começar tirando a poeira. Sobrou-me um tempo, coisa que não acontecia. Somado ao dia horrível lá fora - e aqui dentro-, meus aforismos me atormentam (uh, como se eu me banhasse na moralidade...). Saiu, está saindo, sei lá. Junte a saudade dos meus amigos, e a sensação de ser um fodido, e pronto. Filosofar o pessimismo é tirar o dedo mindinho da bunda. Não coloco como um paradoxo à auto-estima, até porque mesmo pessimista, ela vai muito bem, obrigado. Mas me falta aquele pingo de narcisismo.
Até agora, nada que me dê vontade está ao meu alcance. Vontade, taí. No sistema pessimista, a vontade é inútil. Qual é a meta ou finalidade dela? Uma merda de querer irracional e inconsciente, isso sim. Nada mais que um mal inerente à condição humana, a vontade gera dor (entendam por sofrimento, angústia, aquela porra toda), mas esta necessária e inevitável. Digo isso porque àquilo que se conhece como felicidade seria somente a interrupção temporária do contrário (portanto, você se sentindo like a piece of shit, know what i mean, right?) caso a vontade não andasse de mãos dadas com a dor. Seria deprimente dependermos de uma ou outra lembrança de um sofrimento passado para criarmos ilusão de um bem presente. Mas temos as vontades, os prazeres, as xoxotas. Para Shopenhauer, as xoxotas - digo, os prazeres - são momentos fugazes de ausência de dor e não existe satisfação durável. Logo, tiramos que viver é sofrer. Logo, se viajarmos um pouco, chegamos à conclusão de que a vida é uma prostituta. Se é ou não é, quem liga?, pra mim é fato.
Portanto, agora, me coloco com um ser deprimente, afogando minhas vontades nas ilusões de um prazer passado. Afinal, talvez o contrário também funcione. Ficarei bem e feliz, com passarinhos, campos floridos e freiras taradas.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Movimento



De certa forma há sempre aquilo que não foi dito ou que se gostaria de dizer, agir, mostrar, enfim, restos intocados de uma situação lamentável por seu final, sempre trágico, que acontece por, ironicamente, não haver mais nada a dizer, fazer ou mostrar. E todo final tem esse gesto de fácil compreensão que é o de "deixar de...", seja pelas convenções do que é possível, do que se deve ou apenas por preservação da moral, do humor ou da consciência. Há quem prefira afirmar inconsistentemente e acolher uma culpa que não existe apenas para não perder o pouco que tem a custo da verdade, que um lado não sabe que existe e o outro finge que não vê. As relações humanas tem dessas coisas...

E no fim das contas, que geralmente não é o fim de nada, soma-se muito para totalizar o mesmo. Para onde vão todos os coeficientes é um mistério. Armazenam-se não sabemos onde para ressurgirem não sabemos como exatamente no momento que temos certeza de nossas certezas. E então os coeficientes as quebram, nos deixando em outro lugar mas exatamente na mesma condição: a de nos vermos novamente começando. É aí que entram as divisões, essa taxonomia ineficiente de classificarmos cada fracasso ou vitória como final ou início quando tudo isso não passa de uma certa forma de consolo. O chão é sempre o mesmo, assim como o que há abaixo e acima dele. O homem também é sempre o mesmo, ensimesmado e olhando para o que lhe convém, fiel ao que arrasta atrás de si e ansioso pelo que espera vir, crente de serem seus passos os responsáveis pelo movimento do mundo, sem saber que quanto mais andar em frente, maior a chance de acabar no mesmo lugar de onde saiu. A única verdade revelada ao se provar a fisionomia redonda do planeta e, consequentemente, da vida de cada um.

Nada mudou. Descobrimos coisas sobre nós mesmos apenas para percebermos que, na verdade, sabemos cada vez menos. Outro coeficiente que se perde numa totalização de nada. O benefício de ver realmente o que existe é a recompensa da descrença, ainda que a crença esteja armazenada não sabemos onde, esperando para ressurgir não sabemos como quando temos certeza de nossas mais novas certezas.

Tudo isso para dizer que não há certeza alguma, assim como não existe início, fim, mérito, sorte ou acaso. As coisas acontecem sem motivo. Assim, aceito o que chega como aceito o que se vai, sem mais desprezos, análises ou sentimentos. Só se aprende a receber quando se aprende a perder. A filosofia é besta, a vida é inventada e tudo que fazemos ao analisar os outros é analisarmos a nós mesmos. Há um pouco de todos em tudo e vice-versa, pois só tocando é que conhecemos o mundo e descobrimos que o que existe são os nossos movimentos ao redor de nossas aspirações.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Poesia

É um mistério, você, que é o lado esquerdo sem ser canhota. E esse seu silêncio barulhento a respeito das coisas subentendidas, sonhando acordada e vivendo de olhos fechados, desacreditando todos os sentidos. É um mistério, você... Um mistério construindo sempre na diagonal, abolindo o horizontal monótono, destruindo o vertical que te amedronta, desenhando com baldes o caminho à frente dos seus pés mesmo sabendo que ele é impossível de ser criado de acordo com as vontades. E ainda assim você se move imperceptível entre as partes, como o percurso da luz entre objeto e reflexo.
Um mistério, você...
Você e suas sete sombras, seus passos dançados no teto que, em sua qualidade misteriosa, fazem sentido apenas àqueles a quem você resolve se mostrar. Uma vitória-régia no ceu, suportando de uma multidão os sonhos que flutuam até sua superfície, habilidosamente, sem afundar-se e perder-se no imenso espaço que a cerca e a espreita; as estrelas que tanto busca e admira e das quais tem tanto receio de tocar...
No entanto, em outros momentos, você é quieta, morna. A folha que não compreende a ausência de vento e que já não cai nem se move. De repente seu mundo fica igual ao de todos. Por um lado você se convence de que é certo, mas há o seu íntimo que pede o avesso, as coisas no chão, a chuva de lado molhando um só lado do corpo. É aí que você sorri, quando põe cores no cinza sem graça do dia de todo o mundo. E isso é seu e é lindo, sereno. É a poesia que você exerce em gestos objetivos ainda que incompreensíveis. São os versos que você tira da terra com as mãos em concha e joga entre todos, em pequenos punhados, em paz.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Parceirinha

Não tenho mais presentes para te dar, por isso, tudo o que posso fazer é aproveitar minhas pequenas e esporádicas epifanias inspiracionais para te fazer uma pequena homenagem nesse canto empoeirado da internet que pertence a mim e mais três. Mas tenho certeza de que eles não vão se incomodar em receber alguém por quem tenho tanto carinho.
Infelizmente preciso te desmentir. A minha intenção é não transformar esse texto em um bando de palavras sobre a minha pessoa. Você, no momento, é o foco principal. Por isso fico só com um pedacinho do teu espaço. No começo do ano foi publicado no Puro Charme um desabafo sobre minha partida com uma série de afirmações que, de certa forma, são equivocadas. Você disse que, quando faço algo, sou o melhor nisso. Não é verdade. Acontece que eu me dedico ao que faço - principalmente ao que gosto - integralmente. Para certas coisas, meus dias tem mais de vinte e quatro horas. Já o resto das afirmações creio serem verdade. Dizem os mais antigos que a beleza está nos olhos de quem vê, por isso não a culpo por me transformar em algo que não acredito ser. A isso, meus sinceros agradecimentos. E fica por aqui o meu protesto que não é protesto, apenas um choro de quem perdeu pra uma declaração tão bonita.
Mas você... Que não fez com que o ano em que estivemos juntos passasse rápido, mas o transformou em algo extremamente fácil de lidar. Durante cada dificuldade são pequenas coisas que nos motivam a continuar. E você, pequena, me fez levantar o queixo incontáveis vezes quando o peso se tornava praticamente insuportável. Me corrigiu a postura e, quando necessário, um tapa na cara para eu parar de reclamar. Ou para mostrar quem manda, não sei. Eu não danço, mas você sim. E com propriedade. Uma bailarina mais moderna que aprendeu a sambar nesse carnaval constante que é a vida de quem tem muito mais do que aparenta. Um carnaval que corre sem pensar que, mais à frente, existe uma ameaçadora quarta-feira de cinzas. E se essa quarta-feira chega na sua frente, com a mesma classe imperturbável você a contorna, sabendo que toda "tristeza é um intervalo entre duas felicidades".
Se há algo em você que eu admiro é a sua capacidade de dar felicidade ao outro sem se privar dela. Sua capacidade de carinho regida por uma fidelidade extremamente verdadeira com o que o recebe e consigo mesma. Mais do que amiga, você é cúmplice e isso é verdadeiramente bonito, mas ao mesmo tempo é grave. A isso te peço apenas cuidado. Se te invejo é somente porque você sabe ser você, sem dar muita bola para o pensamento dos diversos outros que também te invejam. Mas a minha inveja é boa, de querer bem, só outro nome para uma "admiração exagerada".
Eu não pretendo te falar o óbvio. Você é linda, física e moralmente. Isso é de conhecimento geral e não há quem discorde. Pode ser que exista quem torça o nariz, mas aí já é pura babaquice. É negar o que está na cara só para fazer birra. E eu discordo quando te chamam de princesa. Você não é bobinha nem boazinha. Você saca as coisas bem depressa e, de alguma forma, tem sempre algum plano para sair por cima. Fora que sabe judiar quando acha necessário. O teu silêncio foi, talvez, a coisa que mais tenha me machucado durante certo tempo. E princesas cantam bem.
O que eu acho, na verdade, é que a nossa amizade funciona bem pois, a partir do momento em que percebemos que não seria possível sustentá-la a partir de pequenos gestos que não eram verdadeiramente nossos, decidimos ser sinceros um com o outro. Foi estranho no começo, mas funcionou. Quando eu mereço você me manda à merda e vice-versa. Entre a gente não existe o medo do ridículo, do fracasso, do julgamento. De peito aberto eu era contigo há muito tempo. Hoje, um com o outro, creio sermos do avesso.
Por isso tenho por você um carinho imenso que é muitas vezes incompreensível para quem olha essa relação do lado de fora. E é bacana demais porque é algo nosso, particular, que não existe com mais ninguém. Pelo menos do lado de cá. Um tipo de amizade diferente que aprendi a desenvolver com outras pessoas. Você me ensinou, entre inúmeras outras lições, a ser simples, limpo, a amar quem eu chamo de amigo. E quando penso que você não pode se superar, eu me surpreendo. Até hoje acho impossível um coração enorme assim caber dentro desse toco de gente. Você não tem tamanho, mas tem colhão e isso merece respeito. Mas, novamente, por esse fato te peço cuidado.
Você fez uma falta do cão para mim esse ano. Mas "os rumos, às vezes opostos, que a vida da gente possa tomar não interessam. Interessa é esse movimento natural de se voltar e sorrir, não importa de onde, com o mesmo sorriso e dizer: 'Hello, girl, anything I can do?'" A gente só se separa para se encontrar novamente.
Essa tua personalidade feérica, fantasiosa é extremamente raro de se achar. Quanto a isso acho que posso me considerar uma pessoa de sorte.
Qualquer dia desses a gente senta e eu te conto tudo sobre você, parceirinha.

Em tempo: você só diz que é mais macho que eu e que tem um pau maior do que o meu porque tem inveja.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Brasileiro

O sujeito que o contratara por um salário mínimo lhe dissera que ele ainda tinha sorte, pois onde já se viu, contratar numa crise dessas que grassava o país. Era um sujeito que gostava de usar verbos desse tipo, aureliados, pomposos, que pareciam conceder dignidade às suas palavras, muito embora ele não chegasse a materializar em sua mente tais abstrações. Grassar, retecer, conscupar; e por aí vai. E por detrás de sua cara amassada, toda a imponência autoritária, sim. Prerrogativa da qual ele se revestia no seu cargo. Ele alí, sentado, com a gravata e a palavra, ao passo que os homens que passavam por sua mesa permaneciam mudos, na submissão que a ele agradava, a não ser por rompantes monossilábicos do tipo “sim senhor” ou “não senhor”. Estivesse de bom humor, discorria também um pouco sobre os problemas do país. Culpava aos políticos, embora adorasse uma corruptela diária. Ostentava diplomas nas paredes – pintadas às pressas, de amarelo ocre – , todos falsos. Quem ousaria inquiri-lo sobre sua veracidade?
Achava que ganhava pouco, e por isso era inflexível. Julgava sua empresa importante a ponto de proibir que os empregados manchassem o santo nome dela envergando seus uniformes nos mais “infames botequins”.
Ele, à frente do tal sujeito, murmurou um muito obrigado. Conseguira, mas conteve o entusiasmo, afinal foram três meses de gravatas e palavras. Tantos narraram as condições socioeconômico-culturais da classe operária antes de brandir o típico “sinto muito” ou “você não se encaixa nos quesitos da corporação”. Não é preciso dizer que uma aura poética o havia rodeado. E isso o fez esquecer até mesmo da melancolia, poderia voltar a saborear o pão na chapa com mortadela daquelas de padaria mesmo. Poderia – há quanto tempo não o fazia – pegar um cineminha despretensioso no final de semana. Esticar pra uma porção de fritas e meia dúzia de garrafas geladíssimas. Pensar nisso o fez sorrir, lábios curvados tal qual arco de Eros. Ele não era burro, apenas não havia crescido num ambiente onde pudesse aprimorar sua educação. Faltava o tal canudo, mesmo sendo ele fervoroso devorador de livros. Resignava-se por saber das artes. De nada adiantava as belezas reconhecíveis de um Monet, as graciosas pinceladas de um Fragonard, a força de um Portinari; se sempre se sentia um Van Gogh, cuja morte solitária o provocava. Revoltava-o saber da literatura. Poe, Goethe, Kafka, Rachel de Queiroz, José de Alencar, Quintana. Pra quê, se seu sofrimento era extensão dos meandros literários?
Sabia da dinâmica dos oceanos, da diferença entre evolução vertical e especiação, das relações inseto-planta. Mas, dele só queriam a mecânica de seus braços. A força que engorda as barrigas e bolsos do sujeito que o contratara. Que paga as gravatinhas de seda e ternos que escondem a burrice dos patrões.
Já havia pensado em se atirar na frente do trem, como um desejo de retorno aos braços e seios maternos, e por que não, à vida uterina, indiferenciada e que todos iguala. Trem esse do sofrimento diário, do atropelamento metafórico. Não fosse o café com açúcar (a doçura na boca acalentadora do amargor da vida), tomado às pressas, não o aguentaria.
Sabia como ninguém dar valor às trivialidades da vida, essa tão efêmera e paradoxal.
E, certo dia, no meio do balanço da condução, um pensamento abafado sob as discussões da novela começou a ganhar a cabeça do tal homem. Foi percebendo, com clareza, que seu vazio não era só econômico. Estendia-se ao uniforme da firma em que fora contratado. Mero invólucro, dentro do qual ele se enfiava diariamente. O oco que o impedia de ser feliz. Resolveu, então, metamorfosear-se. Empupou, virou borboleta e voou. Era brasileiro, mas ser pentacampeão não era suficiente.

domingo, 1 de novembro de 2009

Mas que merda, rapaz..

Acaba sendo assim. De tudo que se aprende nada funciona na hora da ação. Por mais que eu analisasse todas as possibilidades, revisasse todos os meus discursos mentalmente e me achasse preparado, a situação transformava meu preparo em um trabalho sem utilidade, me fazia uma pessoa cujo conhecimento da realidade era uma simples pretensão. A simplicidade não existe, assim como a facilidade. É tudo uma questão de sorte.
E nesse meio tempo eu fico tentando entender por que certas coisas são como são. Eu, com todo o meu discurso, fico aqui quebrando a cabeça por causa de uma pessoa. Uma pessoa que nem o tempo e a ausência puderam afastar. Se eu durmo, penso nela. Quando acordo procuro notícias suas no espaço, algum recado e tudo que vejo é um nome escrito no ceu. Se a procuro, não a acho. Se a acho, ela está de partida. E quando tudo parece se encaixar ela aparece e me derruba, rindo. E eu sinto raiva dela, de mim, do mundo e tenho vontade de quebrar portas, janelas, rasgar papeis, fotografias e no fim, sempre, eu sinto falta dela. Ela me mata devagar todos os dias...
Só que eu já disse tudo, já fiz tudo e ainda assim ela está longe. E é sempre essa sensação de miséria, de que, na vida dela, tudo está perfeitamente claro e limpo, enquanto eu, em um domingo a tarde, despejo uma paixão desigual em cima de algo que não ela, porque, talvez, ela achasse ridículo.
Talvez eu tenha perdido. Me perdido. O fardo de quem fala sem pensar no que vem depois do ato. A consequência de um jeito imperdoavelmente louco, egoísta e solitário no meio do mundo. Uma vida que é do outro, para o outro e nunca para si mesmo, esse "eu" esquecido em algum lugar do passado, atrás de uma linha riscada no chão da adolescência.
Mas ela não liga, não fala, ouve, mas não presta atenção, pensa, mas em outra coisa. E, no domingo de hoje, ela sossegada. Eu, não.

Quem sabe não passa amanhã?