sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Companhia perfeita

Em vão tento explicar o porquê de sufocá-la, mas os muros são surdos. Vejo-os sensibilizados, numa prosopopéia só minha. Não tendo a quem recorrer, apelei ao silêncio. Talvez este, quieto como o analista, compreendesse minha inquietação e sua insistência em inundá-la de palavras. Sinceras, admito, todas.
Sempre quis ser aquela pessoa de alguém; há muito, a dela. Inexplicável a sensação de me arrepiar por dentro, centenas de cifras sob a pele das palavras, sussurradas ao mero abrir de um sorriso. Esse é o meu álibi. Não existe juiz que não me daria ganho de causa, sabendo que ando iluminado pela luz edênica da paixão. Sou simples pirilampo atraído pela luz maior, estrela que ela, Gabriela, emite. A desejo cada dia mais, e dane-se o resto, pago o preço por pronunciar essa irresponsabilidade de cabeça erguida.
A tal parte que sempre nos falta, no meu caso, parece estar em escorregar meus dedos por suas madeixas louras, ou no encostar dos meu lábios àqueles lábios. Falta-me a certeza clara do quê seria, mas está nela, sinto isso. Deve ser por esse motivo que ando a sufocando, pelo querer de tê-la perto. Com ela ao meu lado no tribunal da vida e o silêncio advogando ao nosso favor, o infinito é breve limite à minha felicidade. Pronto, falei.