segunda-feira, 8 de junho de 2009

A própria sorte

Era o melhor dos tempos, o pior dos tempos, uma época de transição para alguns, a época para outros, enfim, uma época de grandes mudanças. Os velhos amigos perdiam o seu tempo, mas eram reproduzidos sempre no seu jeito, no seu discurso. Perdia-se a intimidade por um instante, o conforto do silêncio transformava-se em desconforto.
Não sei o que fazer - pensou - talvez estivesse enganando a si mesmo ao evitar - evitar não - esquecer de pensar sobre os rumos da vida. Vivia tão intensamente a nova vida, a segunda vida, que aquela desejada antes perdera-se no esquecimento, era lembrada apenas ao sentar na mesa da cozinha, ao deitar na cama virado para o lado direito, ao ver uma foto daquilo que poderia ser o autor. A vida passada, cada vez mais ligada àquela, perdeu a conexão com a paixão. Talvez uma nova paixão se desenvolvesse, mas nem um pouco a altura da antiga.
Deixar pra depois foi sempre uma atitude do garoto - quando eu mudar de casa eu vou aprender violão - mudou-se, e nada aconteceu. Os planos não eram concluídos. Não sentia-se dono da própria sorte. Insólito, não sabia como terminar o texto.
- Que merda.