segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Movimento



De certa forma há sempre aquilo que não foi dito ou que se gostaria de dizer, agir, mostrar, enfim, restos intocados de uma situação lamentável por seu final, sempre trágico, que acontece por, ironicamente, não haver mais nada a dizer, fazer ou mostrar. E todo final tem esse gesto de fácil compreensão que é o de "deixar de...", seja pelas convenções do que é possível, do que se deve ou apenas por preservação da moral, do humor ou da consciência. Há quem prefira afirmar inconsistentemente e acolher uma culpa que não existe apenas para não perder o pouco que tem a custo da verdade, que um lado não sabe que existe e o outro finge que não vê. As relações humanas tem dessas coisas...

E no fim das contas, que geralmente não é o fim de nada, soma-se muito para totalizar o mesmo. Para onde vão todos os coeficientes é um mistério. Armazenam-se não sabemos onde para ressurgirem não sabemos como exatamente no momento que temos certeza de nossas certezas. E então os coeficientes as quebram, nos deixando em outro lugar mas exatamente na mesma condição: a de nos vermos novamente começando. É aí que entram as divisões, essa taxonomia ineficiente de classificarmos cada fracasso ou vitória como final ou início quando tudo isso não passa de uma certa forma de consolo. O chão é sempre o mesmo, assim como o que há abaixo e acima dele. O homem também é sempre o mesmo, ensimesmado e olhando para o que lhe convém, fiel ao que arrasta atrás de si e ansioso pelo que espera vir, crente de serem seus passos os responsáveis pelo movimento do mundo, sem saber que quanto mais andar em frente, maior a chance de acabar no mesmo lugar de onde saiu. A única verdade revelada ao se provar a fisionomia redonda do planeta e, consequentemente, da vida de cada um.

Nada mudou. Descobrimos coisas sobre nós mesmos apenas para percebermos que, na verdade, sabemos cada vez menos. Outro coeficiente que se perde numa totalização de nada. O benefício de ver realmente o que existe é a recompensa da descrença, ainda que a crença esteja armazenada não sabemos onde, esperando para ressurgir não sabemos como quando temos certeza de nossas mais novas certezas.

Tudo isso para dizer que não há certeza alguma, assim como não existe início, fim, mérito, sorte ou acaso. As coisas acontecem sem motivo. Assim, aceito o que chega como aceito o que se vai, sem mais desprezos, análises ou sentimentos. Só se aprende a receber quando se aprende a perder. A filosofia é besta, a vida é inventada e tudo que fazemos ao analisar os outros é analisarmos a nós mesmos. Há um pouco de todos em tudo e vice-versa, pois só tocando é que conhecemos o mundo e descobrimos que o que existe são os nossos movimentos ao redor de nossas aspirações.