Acabei de ver o filme "Titus", com Anthony Hopkins no papel de Tito, Alan Cumming no papel de Saturninus e mais uma pancada de atores bons que nunca lembro o nome.
Pra quem não conhece a história, assista o filme. É o tipo de tragédia Shakesperiana complicadíssima de se resumir. Só lhes adianto que há na história membros decepados, estupros, assassinatos e uma torta de carne humana.
Ah, a torta! Talvez a parte que mais nos alivia na história toda. Tito tem sua filha estuprada e com a língua e as duas mãos cortadas. 2 de seus 3 filhos morrem numa armadilha. Ele se finge de louco, captura os filhos da rainha que planejou toda a conspiração contra ele, recolhe o sangue e tritura os ossos e faz uma torta com essa massa. Não é preciso dizer que a rainha se deleita e ele logo trata de dizer a ela que são seus filhos que ela está comendo.
Digo que alivia pois vemos Tito sofrer o filme inteiro, e, bem nessa hora, temos o herói da guerra de volta.
O assunto se tornou conveniente pois talvez seja isso o que precisamos aqui: ressuscitar nossos heróis, deixar de lado o sofrimento. Sei que é difícil, que não é de uma hora pra outra, mas não é pra ser. Façamos nossos planos lentamente, planejemos todas as rotas com previsão de falha, todos os ataques, os que faremos e os que sofreremos. Precisamos reanimar esse instinto que jaz incólume, porém esquecido, como o abismo enorme que existe entre nós e as pessoas sentadas nas calçadas, aquelas por quem passamos despercebidos, ou por mais nojento que soe, acostumados. Nunca me esquecerei de uma cena que me revoltou. Estava na av. Paulista, no sentido Paraíso-Consolação, passando na frente de um bar próximo ao Hospital Santa Catarina quando vi uma mesa repleta de homens com seus ternos, gravatas e sapatos caros. Deviam conversar de assuntos absolutamente relevantes. Todos bebendo suas cervejas e um deles estava tendo seu sapato engraxado por um garoto. O menino não devia ter metade da minha idade. Imaginem a cena: a mesa de uns 6 ou 7 homens de ternos limpos, passados e lavados, cabelos penteados, desodorante em dia, quem sabe até com uma colônia atrás da orelha; um menino com nada mais do que uma camiseta suja, larga, uma bermuda, um par de chinelos e o equipamento de engraxate. Talvez fosse mais que isso, talvez fosse, além da aparência, fosse fome, ilusão e esperança. Quem dera, Deus, fosse esperança. Quanto a ilusão, sou a favor dela enquanto ela cria esperança. A partir do ponto que vira insanidade acredito que seja hora de voltar.
Essa cena é tão difícil de ser descrita quanto uma peça do Shakespeare. Nenhum abismo era tão claro quanto ela. Era preto no branco, óbvio.
É difícil expressar a indignação por meio de um blog. Vocês podem achar tudo isso artificial, hipócrita, como eu já achei vários dos textos que eu li por aí. Podem achar que saindo daqui eu vou vestir minha camisa pólo e andar de relógio no pulso até a padaria. É o que eu geralmente faço e não tenho vergonha. Aí está o maior dos erros de quem não tem entende o sentido de igualdade: achar que quem está numa classe alta deve se rebaixar. A pegadinha está aí! É justamente o contrário; o de classe baixa deve ascender!
Devíamos fazer como Tito. Ressuscitar nosso espírito de soldado, não o bárbaro, mas o justiceiro. Nunca me esqueço de uma frase do jacobino Robespierre quando indagado sobre a Revolução Francesa de 1789: "A França não precisa de mais políticos, e sim de mais guilhotinas".
O Brasil não precisa de mais teoria, precisa de mais ação. A bandeira vai sim perder as cores enquanto houver impunidade. "Para que o mal triunfe basta que as pessoas de bem não façam nada", ou citando ainda um trecho da Constituição dos Estados Unidos: "Se algo estiver fora dos padrões, as pessoas que são capazes de reparar o erro têm a obrigação de fazê-lo". Se a prática fosse como a teoria seria tudo muito lindo, mas não é.
Quem sabe alguma alma mais porra louca que a minha leia esse texto e se sinta tentada a iniciar uma revolução. Não é possível fazer uma revolução a brados de garganta.
Termino com a frase de uma professora de história de uma das minhas mais novas colegas de faculdade. Ela disse assim: "Os jovens são os únicos capazes de fazer uma revolução pois os velhos não têm vontade, eles tem reumatismo".
Leiam, estudem, se interessem, meu Deus, pois esse país é nosso! Não percam tempo com futilidades, elas não vão melhorar a situação de ninguém.
Mais uma frase ótima de Cid Teixeira: "Um país que não conhece a própria história está fadado a repetí-la".
Cheiro,
DóGui.
Pra quem não conhece a história, assista o filme. É o tipo de tragédia Shakesperiana complicadíssima de se resumir. Só lhes adianto que há na história membros decepados, estupros, assassinatos e uma torta de carne humana.
Ah, a torta! Talvez a parte que mais nos alivia na história toda. Tito tem sua filha estuprada e com a língua e as duas mãos cortadas. 2 de seus 3 filhos morrem numa armadilha. Ele se finge de louco, captura os filhos da rainha que planejou toda a conspiração contra ele, recolhe o sangue e tritura os ossos e faz uma torta com essa massa. Não é preciso dizer que a rainha se deleita e ele logo trata de dizer a ela que são seus filhos que ela está comendo.
Digo que alivia pois vemos Tito sofrer o filme inteiro, e, bem nessa hora, temos o herói da guerra de volta.
O assunto se tornou conveniente pois talvez seja isso o que precisamos aqui: ressuscitar nossos heróis, deixar de lado o sofrimento. Sei que é difícil, que não é de uma hora pra outra, mas não é pra ser. Façamos nossos planos lentamente, planejemos todas as rotas com previsão de falha, todos os ataques, os que faremos e os que sofreremos. Precisamos reanimar esse instinto que jaz incólume, porém esquecido, como o abismo enorme que existe entre nós e as pessoas sentadas nas calçadas, aquelas por quem passamos despercebidos, ou por mais nojento que soe, acostumados. Nunca me esquecerei de uma cena que me revoltou. Estava na av. Paulista, no sentido Paraíso-Consolação, passando na frente de um bar próximo ao Hospital Santa Catarina quando vi uma mesa repleta de homens com seus ternos, gravatas e sapatos caros. Deviam conversar de assuntos absolutamente relevantes. Todos bebendo suas cervejas e um deles estava tendo seu sapato engraxado por um garoto. O menino não devia ter metade da minha idade. Imaginem a cena: a mesa de uns 6 ou 7 homens de ternos limpos, passados e lavados, cabelos penteados, desodorante em dia, quem sabe até com uma colônia atrás da orelha; um menino com nada mais do que uma camiseta suja, larga, uma bermuda, um par de chinelos e o equipamento de engraxate. Talvez fosse mais que isso, talvez fosse, além da aparência, fosse fome, ilusão e esperança. Quem dera, Deus, fosse esperança. Quanto a ilusão, sou a favor dela enquanto ela cria esperança. A partir do ponto que vira insanidade acredito que seja hora de voltar.
Essa cena é tão difícil de ser descrita quanto uma peça do Shakespeare. Nenhum abismo era tão claro quanto ela. Era preto no branco, óbvio.
É difícil expressar a indignação por meio de um blog. Vocês podem achar tudo isso artificial, hipócrita, como eu já achei vários dos textos que eu li por aí. Podem achar que saindo daqui eu vou vestir minha camisa pólo e andar de relógio no pulso até a padaria. É o que eu geralmente faço e não tenho vergonha. Aí está o maior dos erros de quem não tem entende o sentido de igualdade: achar que quem está numa classe alta deve se rebaixar. A pegadinha está aí! É justamente o contrário; o de classe baixa deve ascender!
Devíamos fazer como Tito. Ressuscitar nosso espírito de soldado, não o bárbaro, mas o justiceiro. Nunca me esqueço de uma frase do jacobino Robespierre quando indagado sobre a Revolução Francesa de 1789: "A França não precisa de mais políticos, e sim de mais guilhotinas".
O Brasil não precisa de mais teoria, precisa de mais ação. A bandeira vai sim perder as cores enquanto houver impunidade. "Para que o mal triunfe basta que as pessoas de bem não façam nada", ou citando ainda um trecho da Constituição dos Estados Unidos: "Se algo estiver fora dos padrões, as pessoas que são capazes de reparar o erro têm a obrigação de fazê-lo". Se a prática fosse como a teoria seria tudo muito lindo, mas não é.
Quem sabe alguma alma mais porra louca que a minha leia esse texto e se sinta tentada a iniciar uma revolução. Não é possível fazer uma revolução a brados de garganta.
Termino com a frase de uma professora de história de uma das minhas mais novas colegas de faculdade. Ela disse assim: "Os jovens são os únicos capazes de fazer uma revolução pois os velhos não têm vontade, eles tem reumatismo".
Leiam, estudem, se interessem, meu Deus, pois esse país é nosso! Não percam tempo com futilidades, elas não vão melhorar a situação de ninguém.
Mais uma frase ótima de Cid Teixeira: "Um país que não conhece a própria história está fadado a repetí-la".
Cheiro,
DóGui.
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