sábado, 21 de junho de 2008

A capacidade de amar em silêncio

Como sempre, voltaram juntos de metrô. "Como sempre" é um exagero, uma vez que são poucas as vezes que andam de metrô, e juntos, ainda por cima. Seguiram o trajeto numa comunhão com o silêncio, apesar do vento nos túneis, provocado pela força do trem, gritarem; apesar de, em sua mente, boiarem idéias e jeitos de quebrar o silêncio, de fazê-la sorrir, como se trouxesse todas as alegrias de uma só vez. Pensava no elemento da surpresa, em suas possíveis curiosidades, em todo o mistério que rondava seu ar, como a confusão à deriva na mente dele.
Mas o que ele só veio a descobrir depois é que havia uma compreensão mútua. Se amavam e respeitavam em silêncio, sem necessidade de expressão. Para que ela sorrisse, bastava olhá-lo, e vice-versa. Se arriscava uma carícia, seguida de um susto e, por sua vez, seguida de um sorriso. Por vezes, passava minutos a prestar atenção em seu olhar perdido, tentando adivinhar em que pensava. Quando ela percebia, contraía levemente o rosto e logo desviava novamente o olhar.
Raramente ela mexia no cabelo. Se o fazia era para contar alguma história. O cabelo, parte importantíssima em uma mulher, a tornava mais nova do que era; o seu cheiro a tornava mais misteriosa e mais impressionante do que era e seu sorriso, talvez o lugar por onde se expressa a alma, se tornou um símbolo, um signo associado à paz e ao sorriso dele.
É uma guerra travada todos os dias com si mesmo a descrição e a poesia da mulher. É repleta de versos que são, porém, incompreensíveis. Cheia de imagens que, na lembrança, trazem consigo a saudade, que tornam explícita a falta que a mulher faz. Essa coisa de amar em silêncio, sentir saudade é algo que pode matar, mas que, levando em conta isso, é algo pelo qual se vale a pena morrer.
"Amo-a, ele disse"


Um cheiro,
Gui