Muitas vezes me questiono sobre minhas escolhas. Mais ainda, me questiono sobre as atitudes que tomei e que me fizeram chegar a essas escolhas. Também penso, embora com menos frequência, a respeito de minhas atitudes posteriores a essas escolhas. Me vem à cabeça então o mito de Sísifo, o grego que enganou a morte e desafiou os deuses, tendo como punição empurrar montanha acima uma pedra de mármore. Sempre que chegava ao topo, a pedra rolava caminho abaixo, fazendo Sísifo repetir a tarefa eternamente.
Talvez esse pensamento não seja exclusividade minha, pois então pergunto: qual o sentido de nos esforçarmos, darmos o máximo de nós mesmos e, estando a ponto de conquistar o objetivo, um acontecimento nos impelir ao princípio? Qual a razão existente nesse eterno caminho de escolhas que, na verdade, não nos dá direito a escolha alguma?
A verdade é que me sinto perdido, sem saber para onde ir, chegando à conclusão de que não importam as nossas próprias conclusões e filosofias: o caminho é um só. Não me lembro desde quando deixei de acreditar em destino e me mantenho firme nessa decisão apesar desse meio-termo que estou citando agora. Digo que o caminho é um só pois todos eles levam a nós mesmos. Individualista e egoísta, mas verdade. No fim só podemos contar com nós mesmos. O que é decepcionante para alguém com a minha filosofia de não poder - nem conseguir - existir sozinho.
Quem sabe essa não seja a resposta às perguntas acima? Devemos repetir até que aprendamos o seguinte: nós somos sós, apesar dos outros. E como escreveu Leminski, "só o erro tem vez". Sinto que é exigindo cada vez mais de nós mesmos, sobrevivendo através de brechas milimétricas que vamos descobrindo neste espaço em que estamos imersos, reconstruiremos, desta vez mais resistentes, as partes que perdemos ao longo dos rumos que seguimos, que, na verdade, é um só: o que escolhemos. Lembrando de Fernando Sabino, a tristeza é que, de cem caminhos, temos de optar por apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove. E, pensando mais claramente agora que escrevo, vejo que minha decepção é ter de abandonar tudo o que poderia ser mas não será, porque, assim que eu decidir qual direção seguir, os outros caminhos existirão paralelos ao que eu sigo, mas só serei presente neles em imaginação. À medida que penso o tempo para optar se esgota. Minha maior frustração é saber que não conhecerei tudo que sonho em conhecer.
Meu conforto é saber também que, independente de qual caminho eu escolher, o arrependimento e a nostalgia daquilo que não vivi existirão e é exatamente isso que me motivará a perseguir incansável e obstinadamente tudo o que procuro, tudo o que sonho e tudo aquilo que vi e senti nos passados noventa e nove caminhos que não trilhei.
Fica abaixo um trecho de Machado de Assis.
"Se só me faltassem os outros, vá lá,
um homem consola-se mais ou menos
das pessoas que perde;
mas falto eu mesmo,
e esta lacuna é tudo."
domingo, 18 de janeiro de 2009
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