domingo, 25 de janeiro de 2009

Exercício à angústia

Já disse Drummond, penso eu que acometido pela mesma angústia crônica que tomou-me há algumas semanas, que o que pode fazer uma criatura entre as demais senão amar e malamar?
Angústia essa que não se desvencilha, ao contrário, agarra-se cada vez mais forte à minha alma. Talvez por saber que o hospedeiro (ou qualquer que seja o nome dado), num delírio masoquista, aceita-a. Condenando a mim mesmo uma escravidão perpétua, tal Caronte no mundo inferior, aceitei-a também. Devaneio ou não, ilusão passageira... quem sabe?
Que culpa tenho eu se essa angústia se maquia na saudade daquele olhar de menina com firmeza de mulher, naquele sorriso devastador, mil sóis a dizer-me "bom dia!"; na boca convidativa leve hálito sabor chiclete?
Chamem-me do que quiserem, essa angústia me cegou. Me cegou das demais tristezas que vez ou outra me acometiam. Antes uma do que todas, diria o mais simplista. Mas essa tem um quê de retorno, não me perguntem qual, apenas sei que usa a minha inércia, numa física só dela, para se lançar, infalível, sobre mim. Aparece e arrebata-me. Diariamente, quieta e um tanto mordaz, se replica no meu corpo a torto e a direito. Não tem horário pra chegar, embora eu a espere. Invariavelmente, prefere um dia chuvoso como hoje. Ou uma madrugada solitária, na tentativa de ser a "companheira" e por pena, me persegue.
No meu íntimo alimento-a da minha própria carne, dos meus mais profundos medos, na esperança de dizimá-los. E enquanto ela estiver sob a forma da saudade mais cabal e verdadeira, aceito prontamente barganhar uma troca justa: me pungindo ou não, nunca gostei tanto de estar angustiado. Gabriela, obrigado.

"Sou a Saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa..." Olegário Mariano