É inevitável, ao menos para mim, o riso diante um casal prestes a se unir. Se gostam, sabem disso, mas se evitam. Qualquer tipo de contato seria fatal, pois os dois se consumiriam incessantemente em uma voragem tal até que não restasse mais nada. Até mesmo os sonhos eram proibidos. O estado é o silêncio antes do caos, mas o que nenhum dos dois se dá conta é que, a partir do caos, seriam criadores de um mundo próprio, em que se encarnariam um no outro, dando origem ao processo inevitável da junção de seus corpos. Sabiam disso, mas não se davam conta.
Ele, o homem do casal, se queixa comigo sobre o silêncio. Coincidentemente li hoje uma frase escrita por Fernando Sabino: "É preciso ouvir o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um significado. Quem não entende isso não entende nada". Pois lhe digo, caro amigo, que escute o silêncio e perceba nele algo mais que a ausência de palavras. Nessa hora crucial em que se encontra, na qual a fragilidade é extrema e a tempestade se anuncia em velas negras no horizonte, as palavras são desnecessárias. Diga com gestos, com ternura, com olhares, com imagens. Aponte, mostre, exponha(-se), desnude-se. Silencie.
E, acima de tudo, aja. Respeitosa e carinhosamente, como sei que é, amigo.
"O tempo do amor é irrecuperável" - V.M.
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